sábado, 29 de setembro de 2012

Caminhada


Tijolo por tijolo, lágrima por lágrima, a cada nova ausência, a cada passo na direção contraria, desfez-se o castelo de sonhos onde eu morava.

Em cada esquina por onde eu passava, uma queda. Em cada rua, uma obscura estrada. Para não morrer, fiquei parada.

Fui encontrada congelada. Derretida pelo abraço de quem eu não quis. Pela mão negada eu fui acordada.

Corri pra dentro de mim. Tropecei no último passo. Levantei com a cara quebrada.

Esperei a hora passar. Dancei minha agonia na calçada. Fechei os olhos. Não havia dia. Hoje era sempre madrugada.

Olhei pra você e não te vi. Você não falou. Eu não te ouvi. Você me tocou. Eu te sorri embriagada.

Passei para o esboço de um novo contorno. Fui construída de novo. Carne por carne, osso por osso.

Pude então mais uma vez sentir chão, pedra, passarinho, amor, perto e longe, quente e frio, paisagem, solidão.

Caminhei com você enquanto podia. Eu não era para sempre. Você sabia. Eu dizia que não e você insistia. Eu dizia que ia e você não deixava.

Cheguei num ponto. Topo. Cume da montanha errada.

Atrás de mim vinha o vazio. Na minha frente o abismo, o suicídio, o fundo do poço, a última vida, a ex namorada.

Acima o céu, a ventania, a minha última chamada. Tentei voar, não consegui. (foi da escápula que brotou a asa?)

No tempo que passava não havia nada. Para não escutar o silêncio que a morte canta eu quis gritar, mas morri calada.

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